Benvinda Maria da Silva

(12 Set 1910 - 29 Jul 2007)

Benvinda Maria da Silva.
Hoje faz 102 anos do nascimento de minha avó Benvinda e ela bem podia estar aqui para burlarmos as recomendações médicas e tomarmos uma cervejinha juntas, como ela gostava.

Benvinda (grávida do 1o filho) e Francisco Honório de Paiva.
Ela teve uma vida admirável, além de uma vivacidade incrível. Não que ela tivesse uma vida invulgar ou excepcional. Nada disso: era uma mulher lindamente comum. Tão comum quanto eu, quanto minha mãe, quanto todos nós, seres humanos que na nossa determinada época demos tudo de nós para fazer a experiência de viver valer a pena.
Atrás- Benvinda, Francisco, Onilda.
Na frente- Heraldo, Yolando, Mário, Vilmar e Orestes.
Mas então o que fazia dela uma pessoa tão admirável? Acho que era a força, a intensidade, o poder sobre todos à sua volta. E no caso dela, um poder que nunca precisara impor: todos nós a respeitávamos pela sua vontade inabalável, sua segurança, firmeza e sua experiência inenarrável. Para não falar do carinho singelo que ela tentava esconder como se fosse uma virtude menor.

Francisco, Benvinda, Marco (?) e Onilda.
Em todos os momentos da minha vida que valeram a pena, ela estava lá. Mesmo que fosse em pensamento. Tinha a onipresença de todos os que nos amam, confiam na nossa criação, no nosso sangue comum e aguardam pacientemente pelo nosso sucesso. Parecia ter a mais absoluta certeza de qual fora a semente que plantara.
 Benvinda, Ricardo e Francisco.
Eu fico aqui pensando como é que podemos fazer para perdurar nessa vida?... Como é que num dia apostamos todas as nossas energias, matamos o leão da vida diária como se tudo isso nunca fosse ter fim, e noutro dia lá nos vamos, como se nada mais importasse ou interessasse? Esse foi o espaço que eu criei para cultivar a sua memória e o prazer de ter partilhado a minha existência com a avó Benvinda. Sempre foi. Sempre será "benvinda" na minha vida e nas minhas lembranças e saudades.
Benvinda, Francisco, Ricardo (?), Orestes e Gercina grávida.
E aqui deixo trechos de um poema de Drummond. Talvez ele tenha descoberto a resposta  à minha pergunta.
 
Antõnio, Onilda, Mário, Fernando, (?), Ana Maria, Benvinda, Lúcia Helena.
(...)
Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.
(...)
Benvinda e Regina.
Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.
 (...)
Heraldo, Vera, Gustavo, Benvinda, Antõnio e Onilda.
De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco
(...)
Benvinda, (?), Marieta.
E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
(...)
Benvinda, Raphael e Rejane.
Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?
(excertos de "Resíduo"- Carlos Drummond de Andrade)
 
Vó Benvinda - 102 anos ainda viva na nossa lembrança.
(fotos do acervo particular de Onilda Paiva Silva- o meu muito obrigada)

Um comentário:

raphael disse...

vovó benvinda, que saudades! boa lembrança, irmãzinha!