domingo, 15 de abril de 2012

Conclusões de uma garotinha de 7 anos


"Se Deus tivesse feito os meninos e as meninas, mas não tivesse colocado eles juntos, então a gente não haria".

Desenho para o Rejham - Carolina aos 6 anos.
Óbvio. Parece-me um raciocínio lógico, bastante razoável. Levei um pouco de tempo para entender, mas quando avaliei que se dizemos "Se ela fizesse, a Beth também faria. E se há Beth Faria, também ela haria e faria."  Ooooops! As armadilhas da nossa língua portuguesa! Ainda fui a tempo de corrigí-la e falei: "Isso mesmo, filha: Se Deus tivesse feito os meninos e as meninas, mas não os tivesse colocado juntos, então não HAVERIA a gente. Não é a gente HARIA, mas a gente HAVIA".
Fiquei pensando o quanto é importante sermos corrigidos com firmeza na hora de aprender um idioma. Cometo muito mais barbaridades do que essa tentando aprender a falar corretamente o alemão e quem me corrige e ajuda de maneira incansável é a Carolina. Então fica mais ou menos empatado, e sabemos que podemos contar uma com a outra. Eu a ajudo com o português, ela me ajuda com o alemão. Mas passado o primeiro momento de gargalhada (sim, tive que me trancar no banheiro para rir tudo o que eu HARIA segurado), fui ficando admirada com a conclusão a que ela chegara sozinha. A de que a gente não existiria se meninos e meninas não ficassem juntos... fazendo... fazendo o que, meu Deus?!!! Como foi que ela chegou a essa conclusão?!!!!
Abro a porta num rompante:
_ Hei, menina, volta aqui!!!!

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Eros, Psyché e as Penteadeiras

Se há algo que adoro é conversa inteligente sobre coisa nenhuma. Numa dessas, com um dos meus interlocutores prediletos, também conhecido como João Luís Carvalho, disputávamos quem tinha a memória mais arcaica, lembrando de móveis e utensílios que caíram em desuso e hoje ninguém mais sabe do que se trata. Lembramo-nos de coisas do arco da velha, como braseiros, escarradeiras, penteadeiras, e o João saiu-se com um tal de Pixixé (escrevo como entendi, afinal, eu entreguei os pontos nessa hora, porque decididamente eu nunca ouvira falar em pixixés e nem sabia que a palavra existia. Pensei até que fosse invenção dele. Hoje, no entanto, me deparei com a seguinte frase no livro "Ana em Veneza", do brasileiro João Silvério Trevisan:

"Junto à última parede, o deslumbrante psiché de jacarandá, com a banqueta estufada que mãe usava para pentear-se diante do espelho. (...) Dodô teve tempo de ver o lindo psiché Biedermeier passar diante dela, amarrado dentro de um carro de boi, aos solavancos, indo embora em meio a outros trastes."



Claro, corri ao dicionário só para confirmar: o que os portugueses pronunciavam como pixixé, vinha de Psiché, ou Psyché. Sim, estamos falando de mitologia grega, meus senhores! Senão, vejamos:

PSICHÉ - (Do mit. gr. Psyché, atr. do fr. psyché) Grande espelho móvel e inclinável montado numa armação; Móvel de toucador, com grandes espelhos e muitas gavetas. (Dicionário Aurélio)
Ah! O português, os portugueses, e seus encantos! Inacreditáveis os caminhos de nossa língua (sem segundas intenções, por favor)!
Agora, eu pergunto: O que uma penteadeira ou toucador têm a ver com o mito de Psyché?  Algum filósofo ou psicólogo de plantão por aí?
TCHAN TCHAN TCHAN TCHANNNNNN...
Não percam, cenas dos próximos capítulos...

Apesar da complexidade mitológica, eu arriscaria o imediatismo da ligação entre o espelho e o amor pela beleza. Clique no link para saber mais sobre o mito de Eros e Psiquê e arrisque suas próprias conclusões.